Quinto Domingo da Páscoa

Dia: 28 de Abril de 2024
Primeira Leitura: At 9,26-31
Salmo: 21, 26b-27.28.30.31-32
Segunda Leitura:1Jo 3, 18-24
Evangelho: Jo 15,1-8

O texto dentro do Evangelho

O conjunto de textos que iniciam no capítulo 13 do Quarto Evangelho é um discurso onde é deixado o legado de Jesus ou seu “testamento”. Tudo isso é feito na mesa eucarística, onde acontece o “Lava-pés”. Por isso, no mínimo até o final do capítulo 17, devemos manter a imagem de Jesus sentado à mesa, após ter ensinado como servir amorosamente, falando de como será a missão deixada por ele, e de como o amor será o grande sinal da unidade e chave para que realmente o mundo seja transformado.

O capítulo 15 está no centro deste discurso e abre com “o exemplo do vinhateiro e a videira”. Não se trata de uma “parábola”, pois aqui não é uma estória a ser usada como analogia, mas um convite ao “pensamento metafórico” que, por definição, é: “um processo mental que conecta dois universos diferentes de significado (…) em busca de semelhanças”. A vinha é um símbolo muito usado para falar da relação de amor entre o Deus Libertador e seu povo nas Escrituras, como acontece no Cântico da Vinha em Is 5,1-7. No entanto, Jesus, aqui, não faz referência a Deus na perspectiva do dono ou arrendador da vinha e ele como herdeiro, como nos Sinóticos (Mc 12,1ss; Mt 12,33ss; Lc 20,9ss), mas na perspectiva de Deus como trabalhador e dele como a própria videira que Deus plantou e à qual as pessoas que o seguem devem estar intimamente ligadas e dar frutos.

O texto em si

Propomos a interpretação deste texto através da seguinte estrutura:
A – v.1
B – vv.2-4
C- v. 5
B – vv. 6-7
A – v. 8

Esta forma de pensamento, característico da mentalidade popular hebraico-aramaica, revela o centro do texto, isto é, o eixo ao redor do qual gira seu sentido. Vejamos como isto acontece:

v. 1 – Eu sou videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. “Eu Sou”, conecta esta narrativa com outras do mesmo Evangelho (“Eu sou o pão da vida”, 6,48; “Conhecereis que Eu Sou” . 8,28; “Eu sou a Porta” e “Eu sou Bom Pastor”, 10,9.11.14; “Eu sou a luz que veio ao mundo”, 12,46; “Eu sou o caminho a verdade e a vida”, 14,6). Jesus se apresenta como “videira verdadeira”, o que faz pensar que há “falsas videiras”. O termo “agricultor” em grego geórgios (indica aquele que cuida da terra, não só da videira).

vv. 2-4 e 6-7 – Permaneçam em mim! A videira verdadeira existe para que os ramos deem frutos. O Pai que corta aqueles que não dão fruto (v.2-3). O ramo esta “llimpo/puro/saudável” quando Jesus – que é “Deus-Palavra” (cf. Jo 1.1) – fala (como se fosse a seiva). Os outros  versículos repetem a expressão  “permanecer em mim”. O desafio da missão de Deus em Cristo é permanecer n’Ele e dar frutos.

v. 8 – Discipulado: glorificação do Pai através dos frutos dos ramos da videira. Este versículo leva de volta ao Pai apresentado no v.1 como um agricultor! Não outra forma de seguir Jesus (discipulado) que não seja promover a glorificação do “Deus Trabalhador” através dos frutos da Videira (Jesus-Palavra).

v. 5 – O CENTRO DO TEXTO: Sem mim nada pode fazer! Aqui se dá a confluência de todo o texto, reafirmando que o fruto vem da unidade completa entre os ramos e a videira. Mas, a frase forte é que sem Cristo, isto é, sem uma total comunhão com o sentido de sua Palavra, nada pode ser feito.

Buscando a unidade na práxis

Este Evangelho reforça a busca da unidade na ação amoros que faz a conexão com Cristo com Palavra Viva. Segundo o comentário de Raymond Brown (A Comunidade do Discípulo Amado) este Evangelho lida com diversos conflitos cristológicos, isto é, uma diversidade de aproximações e compreensões do ser de Deus em Cristo e da sua humanidade, no entanto, o testemunho –  a práxis cristã – é o lugar onde a unidade se torna visível. Na práxis cristã há frutos diversos, mas todos importantes. Na práxis cristã – eclesial, ecumênica, dialogal em relação à diversidade humana – é que pode ser evidenciado o agricultor (Deus Pai Criador), a verdadeira videira (Deus Filho, o Cristo), os ramos (pessoas unidas a Cristo pela fé e pelo compromisso com o Projeto do Reinado Divino) e os frutos (ações transformadoras da vida das pessoas, comunidade e sociedade).

Relacionando com os demais textos Em Atos 9,26-31 vemos como os receios em relação ao antigo perseguidor da Igreja (Saulo) são superados pelo relato da sua práxis, feito amorosamente por um amigo e irmão, Bernabé. Este processo é que fez a Igreja crescer. O texto da primeira carta de João é bem enfático em relação à práxis que revela a presença de Cristo no agir das pessoas que lhe seguem e da Igreja: “não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e de verdade (…) seu preceito é que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que nos deu” (1 Jo 3,18.24).

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