Dia 29 de janeiro de 2022
Primeira Leitura: Sf 2,3; 3,12-13
Salmo: 145
Segunda Leitura: 1Cor 1,26-31
Evangelho: Mt 5,1-12a
Não há dúvida que o discurso de Jesus sobre a montanha deva ser considerado torá (cf. Dt 30,14: “esta palavra está bem perto de ti, está em tua boca e em teu coração, para que a ponhas em prática”), visto que a torá escrita não permanece idêntica a si mesma depois da interpretação que recebe: divina eloquia cum legente crescunt!
Devemos nos deixar conduzir por Mt, partindo do pressuposto que ele está aplicando à vida de Jesus precisamente o esquema da torá, o que quer dizer que Jesus se torna a torá vivente. Depois das tentações no deserto, vem a teofania do Sinai e o dom da Lei. O Messias de Mt adquire os traços de um novo Moisés.
No início da perícope aparece o anúncio de uma bem-aventurança. O adjetivo makários “feliz” é tradução grega variável de um substantivo hebraico invariável: ashrê.
Em boa parcela da literatura bíblica encontramos tipos de bem-aventuranças, tecnicamente chamadas de macarismos.
As bem-aventuranças são um tema da literatura sapiencial. São a ciência da felicidade.
É uma fórmula usada como augúrio ou exclamação (Sl 1,1; 2,12, 34,9; 40,5). A bem-aventurança vem de Deus. É feliz quem a Ele se confia (Pr 16,20; Sl 40,5; 84,13), n’Ele se refugia (2,12; 34,9), observa a Lei (Sl 106,3; 112,1; Pr 8,34), vive com sabedoria (Eclo 14,20). Quem é bem-aventurado possuirá vida longa (Eclo 1,18). Israel é feliz por ter a Deus como rei (Sl 33,12-17).
A observância da Lei torna a pessoa feliz (Sl 119,1-2). O mesmo sucede com a meditação da Sabedoria (Pr 3,13; 8,32-33); ou com o temor de Deus (Sl 128,1; Eclo 25,8-11).
Partindo da experiência de que nem o justo é, às vezes, feliz neste mundo, alguns textos do AT proclamam a bem-aventurança dos que virem os últimos tempos (Tb 13,14-16; Eclo 48,11).
No Novo Testamento, bem-aventurado (makários) é relativo a estar feliz com a implicação de que se desfruta de circunstâncias favoráveis.
Muitas bem-aventuranças declaram que a felicidade está à porta, pois chegaram os últimos tempos (Mt 13,16; Lc 1,45; 11,27-28; Jo 20,29). É nesse sentido que Jesus proclamou as bem-aventuranças. O Reino traz a felicidade aos cegos, aos que choram etc. Lucas deu-lhes uma feição social (relacionar Lc 6,20-2 com 4,18-19; 14,13s) e Mateus uma dimensão moral, a justificação (Mt 5,3-11). Lucas faz uso da 2ª. pessoa plural no discurso, conforme o estilo dos profetas. Mateus, por sua vez, usa a 3ª. pessoa singular conferindo às bem-aventuranças um caráter sapiencial e atemporal, válido para todos os que creem.
Ainda no NT, aparecem no Apocalipse 7 bem-aventuranças que expressam aspectos concretos do seguimento de Jesus (Ap 1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7.14)
No texto proclamado na liturgia de hoje, por nove vezes aparece o adjetivo makários: porém, a nona bem-aventurança, apresentada em um estilo diverso, é um simples desenvolvimento temático da oitava, a da perseguição.
Estas oito bem-aventuranças se correspondem quiasticamente em pares:
Pobreza – Perseguição (v. 3 e 10)
Aflição – Paz (v. 4 e 9)
Mansidão – Pureza (v. 5 e 8)
Justiça – Misericórdia (v. 6 e 7).
No início e ao final (v. 3 e 10), a motivação das bem-aventuranças é idêntica: “pois deles é o reino dos Céus” (versículos que representam inclusão). E todas as motivações intermediárias (consolação, herança, saciedade etc.) podem ser consideradas especificações desta motivação principal: a chegada do Reino.
No v. 12 aparece pela primeira vez outra palavra-chave de todo o discurso: “recompensa” (misthós). A verdadeira recompensa é a adoção como filhos e filhas de Deus.
Parece certo afirmar que o elemento específico de cada bem-aventurança, seja no AT ou no NT, é o seu tom escatológico, que implica a transformação da situação presente de injustiça e de pecado. Justamente aqui, o texto adquire um significado particular para todos os discípulos e discípulas de Jesus.
Relação com as Leituras
O texto de do profeta Sofonias, assim estruturado, é posto como condição indispensável (“praticai a justiça, procurai a humildade”) para interpretar com frutos o texto evangélico.
A Segunda Leitura funciona como eco onde se escuta: “Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte”.
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da
Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana:
Dr. Bruno Glaab – Me. Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló
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